sábado, 8 de dezembro de 2007

Sucesso


Sucesso começa com a consciência da juventude eterna cultivada dentro de você. Sucesso é guardar dentro de você a presença da criança que você foi e ter certeza de que essa criança é parte de você e de tudo o que faz”.
José Luiz Tejon
www.tejon.com.br
Felicidade é cair na real

Por José Luiz Tejon

Na vida existem os doces, os amargos, os salgados, os espinhos, os macios. Cabe a cada um de nós exercitarmos nossas vivências para conviver com toda essa realidade externa.

Vida não é ilusão! Vivemos uma ditadura de felicidade, uma confusão generalizada entre sonho e ilusão. Sonho é um desejo veemente. Ilusão é o engano do sentido e da mente. O psicólogo americano Steven Hayes, casado com a gaúcha Jacqueline Pistorello, também psicóloga, vira a mesa desse distúrbio moderno: ensinar as pessoas a se livrarem de pensamentos e sentimentos negativos.

Em seu novo livro ''Saia de Sua Mente e Entre em sua Vida'', Hayes diz que é preciso aceitar a dor e o sofrimento como parte da vida. A verdade é que estamos criando uma geração de ''cascas finas''. Uma juventude, crianças, sociedade que acredita que o mundo existe para satisfazê-los, e não para ser satisfeito. Nas empresas existe uma onda ''moderna'' de que a paz, harmonia e a ''alegria'', o trabalhar pouco, o só fazer o que gosta é o que promove o crescimento e os lugares realmente prazerosos para trabalhar.

O filho de um grande amigo meu foi despedido de uma importante empresa. Ele veio reclamar que a razão era porque seu filho era muito alegre, feliz, sorridente e estava sempre de ''alto astral'', e que algumas empresas não toleram isso. Como tinha relacionamentos naquela companhia fui investigar sutilmente. Descobri a verdade: nada disso. A razão do desligamento era a falta de concentração, de compromisso com o trabalho, de um comportamento imaturo e de permanente espírito ''rave''. Entretanto o meu amigo saiu em defesa do filhão, continuando ''fora da real''.

Outro mito e ritual atual é o de ficar pouco tempo nas empresas, girar e girar, trocando muito de posição. Imagine só, se é difícil você conhecer os segredos e saber como se ganha dinheiro em qualquer atividade competitiva, mesmo com dez anos de vivência, pense em alguém saltando daqui para ali a cada ano e meio!

Será, na melhor das hipóteses, um brilhante saltador de obstáculos, jamais um líder e consciente profissional. Novamente, aos 24 anos fará pouca diferença, mas, a partir dos 34 sua falta de solidez e conteúdo o deixará com ''pernas de geléia'' ao modelo do pequeno Bambi.

Nos relacionamentos afetivos, cada vez mais superficiais, o ''ficar'', o alto ''turn-over'' de parceiros, o ''envolver-se para quê?'' é uma constante. Então, ao invés de conhecermos profundamente outra pessoa, conhecemos superficialmente 100 pessoas: ilusão, só estamos entorpecidos, anestesiados e ''drogados'', brincando de pula-pula nas experiências da vida. O problema não é você fazer isso aos 16 anos. O real drama é é continuar fazendo isso aos 66!
Nas escolas a ordem é agradar ao aluno. Um professor mais severo e determinado a ensinar com a dureza que forja líderes será bombardeado por pais e mães superprotetores. Tudo terá como desculpa a evolução e a modernidade. Outro dia minha filha Luciana, de 8 anos, veio reclamando da professora de alemão. Disse que era uma senhora idosa e muito severa e brava. Ela estava acostumada com outra professora que era doce e meiga. E daí? Perguntei.

Na vida existem os doces, os amargos, os salgados, os espinhos, os macios. Cabe a cada um de nós exercitarmos nossas vivências para conviver com toda essa realidade externa. Agora pense, disse para a pequena Luciana, se você não conseguir estudar e conquistar essa senhora de cabelos brancos, que está lá para ensinar você, como acredita que irá enfrentar uma verdadeira situação de agressão quando crescer?

A mesma coisa acontece com nosso sentido de beleza, de cidade, de país, de mundo e de vida. Se você não é a Xuxa, procure ser Marlene Mattos e pare de reclamar.
Se você não gosta da sua cidade, do seu país, pergunte: o que eu faço para melhorar o meu lugar, organizar, contribuir, mudar o mundo lá fora, versus fugir para a Austrália, Fort Lauderdale ou a Patagônia e terminar com os olhos cheios de lágrimas quando alguém menciona a palavra Brasil?

Muitas pessoas não aceitam o mundo por não querer beijar a sua realidade. Vive no planeta Terra, mas pensa estar em Marte. Corre atrás de ET's quando os amores da vida lhes escapam ao sentimento e à mente. Não fuja do que você sente. Não tente escapar das ''pegadinhas'' da vida, pois elas sempre existirão, enfrente-as.

Se os ''moleques'' não deixam você vender sorvetes, por que te roubam e te batem, faça como nosso novo campeão, o Sertão - pugilista: vai aprender boxe para não apanhar deles e um dia fica famoso no mundo inteiro! Porém, se o caminho for o da ilusão o da falsa felicidade, iluda-se como um monte de ladrões, roubando, entregando a vida e matando para pagar grifes, ouro no pescoço – e um dia, bem cedo, deixar sua cabeça cortada em vão.

A morte é certa e não vale a angústia do medo. No mínimo depois da morte viveremos igualzinho ao que vivíamos antes de nascer... Você não se lembra mais?

Felicidade é cair na real, não confundir sonho com ilusão e realizar duas coisas fundamentais: conhecer o planeta Terra (o mais fácil) e a si mesmo (o mais difícil). Em síntese, existir, aprendendo velozmente com a existência.

José Luiz Tejon é professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mestre em Educação, Arte e Cultura pela Universidade Mackenzie e autor dos livros O Beijo na Realidade, O Vôo do Cisne e Liderança para Fazer Acontecer, Editora Gente (www.tejon.com.br)